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domingo, 5 de março de 2017

Prática vs Ensaios

(Esta página é uma tradução do original em francês, que pode ser lido aqui.)


A vida real é diferente dos ensaios?

Nota de humor (má), por Charles-Edouard!

Um anónimo testemunha aqui, a 24 de fev. de 2017:

O agradecimento é a minha única recompensa! Obrigado a ti também...

Veremos em breve o DOMONO, de resultados mistos, tendo em mente a coorte BMM (Barcelona, Montreal, Munique), donde os resultados, após algoritmo de selecção são muito bons.

Porque é que a vida prática difere, neste ponto, da 'ciência'?


monotherapie trithérapie Dolutegravir Tivicay MonoDolu DOMONO CROI 2017 jose blanco
A seguir à excelente apresentação de J. Blanco na CROI 2017, o ataque é seguido de uma claque nutrida. A controvérsia, não se podendo sustentar nos fundamentos (a monoterapia funciona em pacientes escolhidos), é sustentada na forma pelo lobbying. A pluma, é a do Dr. Joel Gallant, estimado dos internautas (indevidamente, sem dúvida: O Dr. J. Gallant é pago como consultor/conselheiro científico pela Bristol–Myers Squibb, Gilead Sciences, Merck & Co., Theratechnologies e ViiV Healthcare/Glaxo-SmithKline).

A acusação cai sobre o DOLUMONO. Leiam então o artigo original da Dr.ª Celia Oldenbuettel (foto ao lado, curriculum aqui): Leiam, e releiam. Faltava aqui era um consultor motivado para lhe encontrar bicho... Gallant a isso empresta o seu nome e a sua bancável e-reputação. (Deixei-me apanhar nisso, mas agora já não!).

Grrr!! Preparem-se, eis "o argumento" (cf. artigo):

Numa palavra, a Dr.ª Oldenbuettel ter-se-ia subtraído às suas obrigações de pré-requisito de autorização. Daí oferecer um cuidado individualizado, mas a muitos pacientes, para se fazer um pequeno ensaio, disfarçado, e com autorização posterior...

 

Má-fé, insinuações: atenção ao fake!


A insinuação estende-se a outros grupos. O Dr. Gallant inclui até um erro factual:

É falso! O artigo da Dr.ª C. Gubavu [cf. Hocqueloux, Orléans] especifica mesmo:


O Dr. Gallant argumenta com a prática 'US' para inventar uma falha das pessoas que aplicam a sua regulamentação nacional. A Dr.ª Oldenbuettel faz os GGT, CD4, CD8, lípidos, aquando do switch, enquanto que a prática US (duvidosa) seria de não os fazer: ele vê nisso a marca de experimentação humana! O meu médico, esse, fá-los, e em supervisão frequente. De que culpar Oldenbuettel ? Por outro lado, o que pensar daqueles que não fazem exames completos e repetidos aquando de um switch ?

O Dr. J. Blanco (ao lado) explica bem o que é que propõe ao paciente com falhas múltiplas, frente a ele. Nesse caso, o que faz o Dr. Gallant? Hã??? Mais outro switch em Tri, depois outra Tri, e ainda outra Tri, até à exaustão do paciente, que se torna 'desaparecido de vista' (i.e., pára o tratamento) ?

Alguns pacientes, assim maltratados a golpe de triterapias ortodoxas e abusivas, desistem do tratamento, com danos sanitários e epidémicos. Culpabilidade dos médicos 'US', e da sua oferta uniformizada e mal-tolerada, que dela se subtraiem legalmente (ou éticamente) mas não moralmente. Ao menos os europeus têm uma taxa de supressão de 90%, onde os USA têm como tecto 50% ! Vir dar lições (patrocinadas?) é um pouco forte em café!

Desconstruído, "o argumento" fica apenas argumentário comercial


Os alemães actuam exageradamente: o seu tecnicismo é de ouro. Já a mão invisível, capitalista, expõe o seu esquema de captação voraz: atrasar os ensaios inovadores, confiá-los aos actores do sacro-santo mercado, e conspurcar aqueles que ainda exercem a arte médica.

J. Leibowitch, que contribuiu para a descoberta do vírus, do tratamento e do aligeiramento, bem mais do que este pobre Dr. Gallant, terá, ele também, sido deitado aos cães, para grande deleite do Capital.

A não ser que... A não ser que... O ensaio (ANRS-4D), que visava ganhar tempo e invalidar o ICCARRE, devolveu ouro: ZERO falhas intrínsecas. O Dr. Gallant sabe encontrar bicharocos em Oldenbuettel, mas fazer éco do ICCARRE, isso, como que por acaso, escapa-se-lhe...

O ensaio confirma Leibowitch, que, para o ICCARRE, tinha as autorisações ad'hoc. Tem adequação exacta (ZERO falhas intrínsecas!) entre a equipa inovadora e o ensaio formal ANRS [NdT: ANRS - agência nacional francesa de investigação sobre vih e hepatites virais].

Em mono de Tivicay® é ao contrário: a coorte BMM, uma vez passada pelo crivo (nem Calcanhar de Aquiles, nem má adesão, nem virémia inicial) dá bons resultados. O DOMONO, ensaio randomisado, de inclusão pouco exigente, é um sucesso misto. Um pouco como para a monoterapia de IP, autorisada em França, caso a caso, e catastrófica no ensaio MOBIDIP...


Porque é que o DOMONO conduz a uma interpretação oposta à da BMM?


Desde logo, os pacientes fazem batota... Fizeram-na no ANRS-4D, fizeram também aqui. O ensaio passa-se em Amsterdão... Lá, onde se pôs em evidência uma elevada taxa de batota e um efeito de 'dou-ao-investigador-a-resposta-que-lhe-agrada...'. Amplificado pelo problema linguístico identificado aqui. O Dr. Vries-Sluijs comenta (fonte):

Ora, o DOMONO é o reino da batota e da credulidade dos investigadores!
Que a CV recupere francamente com uma adesão perfeita (sic) e sem mutações de resistência (re-sic), isso é preciso que mo expliquem! Que nos expliquem! Por outro lado, que não tomem os seus medicamentos e engulam 5 na recolha de sangue, isso vejo eu!

Na vida real: ICCARRE


Muitos pacientes são bem sucedidos em mono de Tivicay®: eles estão contentes!

O preço a pagar para beneficiar do Tivicay® não é propriamente pesado:
- ensaiar, com algoritmo selectivo, sendo o risco fraco, e o prejuízo nulo, e/ou
- reforçar com Lamivudina (ou Rilpivirina, a rigor).

Leibowitch patent brevet US20120270828   EP2332544 US9101633 B2 once weekly hiv
Muitos não compreendem o "Eclipse"... É pena! O que fazer?
O "Eclipse" é a necessária contrapartida à cronicidade. O vosso ADN está modificado e inclui agora a receita da tarte de maçã [i.e., do vírus...]: e não é por o vosso ADN ter a receita da tarte de maçã que se vai pôr a fazê-la a trouxe-mouxe!

A melhor solução: o ICCARRE, e o melhor ICCARRE é o 1/7!


Aí, têm à escolha entre a fórmula patenteada de Leibowitch e tentar integrar o Dolutegravir na vossa estratégia (seja em 7/7, 4/7 ou 1/7). Para mim, as 2 ópticas funcionaram muito bem.

Agora... Os mija-mija, os vendidos, os corrompidos que nos vendem a sua sopa sob a cobertura da preocupação ética, esses é que me enojam.

O ICCARRE é bom e sobretudo o ICCARRE é uma ferramenta para a erradicação...

Nota de 16/04: Querem rir um bocado? Aqui [NdT: Em Francês, mas vale a pena, nem que seja porque só com os bonecos se entende bem a trama]: Como fazer um estudo clínico dizer tudo o que queremos. E brevemente abordaremos as 'faltas' éticas do mesmo Joel Gallant: a acompanhar...

Bom fim-de-semana e vida boa!

Referências:

Pathways of Resistance in Subjects Failing Dolutegravir Monotherapy, por José L Blanco ver art.º

Dolutegravir monotherapy as treatment de-escalation in HIV-infected adults with virological control: DoluMono cohort results, por Celia Oldenbuettel ver art.º

Dolutegravir monotherapy: when should clinical practice be clinical research?, por Joel Gallant ver art.º

Dolutegravir-based monotherapy or dual therapy maintains a high proportion of viral suppression even in highly experienced HIV-1-infected patients, por C. Gubavu ver art.º

[...] Virological Failure in an Unselected HIV-1-Infected Population, por Vries-Sluijs ver art.º

Four days a week or less on appropriate anti-HIV drug combinations provided long-term optimal maintenance in 94 patients: the ICCARRE project, por J. Leibowitch ver art.º

Treatment adherence amongst HIV-infected patients in Rotterdam..., por Kooiman EL ver art.º

Nouvelle composition pharmaceutique utile pour le traitement des personnes atteintes du virus de l’immunodéficience humaine (VIH), por J. Leibowitch ver art.º

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